O Projeto Geoparque Chapada dos Veadeiros surgiu em 2016 e integra um projeto da Universidade Federal de Goiás (UFG) dentro do grupo de Pesquisa de Patrimônio Geológico e Geoconservação liderado pela Prof.ª Joana Sánchez. O projeto surgiu com o apoio do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), considerando que a Chapada dos Veadeiros é a segunda maior chapada do Brasil, com o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, de beleza cênica excepcional. Ao iniciar o inventário, percebeu-se que o valor científico também era de relevância muito alta, inclusive com sítios que podem ter valor internacional.
Concomitante ao inventário, iniciou-se um projeto de extensão de capacitação para condutores, guias e professores, sendo este último grupo o próximo passo da extensão. Foram realizados 4 cursos desde 2017, nas cidades de Alto Paraíso de Goiás, Cavalcante e Vila de São Jorge.
Os cursos são de Geologia Básica e Geologia Regional, com uma linguagem voltada ao público “leigo” em Geologia. Na verdade, todos são grandes conhecedores, então foi dado um foco diferenciado às trilhas e aos atrativos para os eventos geológicos que ali ocorrem. Com o empoderamento da população local, a conservação se torna viável. Foram já capacitados cerca de 110 alunos. Juntamente com os cursos de Geologia, foi realizado outro em conjunto com a capacitação de guias em normas ABNT de Segurança e Líder de Turismo, com apoio da empresa local (Travessia Ecoturismo).
O projeto está na fase final de inventário do Patrimônio Geológico, que será publicado em breve. Foram inventariados cerca de 60 geossítios dos quais 36 entraram no inventário. Apesar de quantificados somente os geossítios no inventário, em vários deles existem as georrotas prontas, com interpretação dos locais de interesse geológico nas trilhas até o atrativo.
Atualmente, o projeto depende de financiamento e da parte cultural e social para o dossiê ser elaborado e encaminhado à UNESCO. Para isso, estima-se por volta de 4 anos de trabalho em conjunto e com maior divulgação entre as prefeituras e comunidades locais.
O Projeto Geoparque Costões e Lagunas do RJ realizou uma entrevista especial com a equipe do Geoparque! Confira abaixo!
1) De que forma começou o Geoparque, quem participou e como está o projeto hoje?
O projeto começou quando Joana Sánchez retornou de Portugal e teve em mente começar a construir um geoparque. Quando ela passou no concurso na UFG (Universidade Federal de Goiás), elencou dois lugares, porém foi na Chapada dos Veadeiros em que percebeu um potencial muito grande, sendo recebida por um amigo que era chefe do parque na época. Ela começou a realizar o inventário em 2016 e terminou recentemente. O projeto conta com a colaboração de alguns professores da UFG e de um geólogo da Espanha, que é coordenador do Geoparque Sobrarbe-Pirineos. Atualmente, está na fase de divulgação e da publicação do inventário geológico inicial.
2) Como é constituída a estrutura de gestão do Geoparque? Quais as categorias profissionais que fazem parte da equipe?
Ainda não foi formada a equipe gestora. Este será o próximo passo que se espera realizar no próximo ano.
3) Quais as principais ações de geocomunicação e geoeducação que vocês promovem no território?
As ações de Geocomunicação hoje são feitas pelo Instagram do projeto e por palestras para a comunidade. A Geoeducação nasceu junto com o inventário, pois desde 2016 são realizados cursos de Geologia Básica e Geologia Regional para condutores e guias da região. Já foram ministrados 4 cursos e formados cerca de 120 guias.
4) Quais são os geossítios e sítios culturais de maior relevância para o Geoparque?
Os dois geossítios cientificamente mais importantes da região são: Vale da Lua e Cachoeira do Dragão.
a) Vale da Lua
Caracteriza a base do Grupo Paranoá, um dos únicos afloramentos onde ele aflora. Trata-se de uma rocha excepcional, com feições morfológicas que nos remetem ao aspecto lunar e caracterizado nas categorias: tectônica, mineralógica, geomorfológica e de beleza cênica.
b) Cachoeira do Dragão
Formada por duas cachoeiras que se apresentam de lados diferentes no mesmo local, com uma caverna com águas termais dentro. Trata-se do encontro de duas zonas de cisalhamento, que, infelizmente, são de difícil acesso.
5) Qual é o maior desafio que vocês enfrentaram na divulgação e engajamento do projeto?
O maior desafio é estar presente na região, pois grande parte da equipe não mora lá. Conversar com prefeituras e fazer o projeto ser reconhecido também se tornam obstáculos, mas com o tempo acredita-se que todos conhecerão.
6) Quais são os planos para o futuro do Geoparque Chapada dos Veadeiros?
Os planos são realizar mais cursos de educação para condutores, com intuito de ampliar agora para professores das redes municipais e estaduais. Começar a divulgar as georrotas que já estão prontas e confeccionar materiais de divulgação e didáticos.
7) Gostaria de ressaltar alguma característica que faz do seu projeto especial?
Gostaria de ressaltar que a base de um geoparque é a população local, mas que por vezes não é possível conseguir sem apoios ou com pouca gente ao acessar. O nordeste Goiano tem muito potencial. O encontro tectônico da região a faz ter uma beleza excepcional e cada vez mais são descobertos locais geologicamente encantadores e de belezas cênicas inimagináveis. No território proposto para o geoparque existem também comunidades quilombolas que acrescentam muito no valor cultural.
8) Defina o Geoparque Chapada dos Veadeiros em apenas uma palavra e por quê?
Surpreendente. Não cansamos de descobrir locais exuberantes a cada caminhada!
Galeria de Fotos:
Curso para guias/condutores realizado em 2020.
Corredeiras (Dentro do PNCV): Apresenta marcas de onda, estratificações cruzadas, com acesso até para cadeirantes. Foto: Fernando Tatagiba
Mirante da Nova Aurora (Cavalcante): Dobra de grandes proporções onde se avista do mirante seus flancos e o embasamento da região. Foto: Joana Sánchez
Santa Bárbara (Cavalcante): Única cachoeira de águas azuis devido ao carbonato nela dissolvido. Dentro da comunidade Engenho no território Kalunga. Foto: Joana Sánchez
Mirante do Morro da Baleia (Alto Paraíso de Goiás): Com essa paisagem podemos comprovar a deformação do local, com dobras suaves que formam a baleia, uma sinforma. Foto: Joana Sánchez
Mirante do Vale da Lua (Alto Paraíso de Goiás): Formação rochosa, trata-se de um metaconglomerado. Foto: Joana Sánchez
Vale da Lua (Alto Paraíso de Goiás): Local é o encontro de dois grupos geológicos, onde um cavalgou em cima do outro, fazendo aflorar este local, que hoje foi esculpido facilmente pela água, pois sua matriz apresenta carbonato de fácil dissolução pela água, formando imensas e belas marmitas. Foto: Joana Sánchez
Mirante da Janela (Alto Paraíso de Goiás): Paisagem apresenta duas cachoeiras formadas por falhas geológicas e o rio corre pelo meio da dobra suave, no seu eixo. As formações geológicas avistadas representam a tectônica dentro dos grupos Araí e Traíras, com idades entre 2,0 e 1,6 bilhões de anos. Foto: Joana Sánchez
Cachoeira do Label (São João D’Aliança): Maior cachoeira de Goiás. Apresenta duas fases de deformação com dobras norte-sul e leste-oeste, e a cachoeira no eixo das dobras. Foto: Joana Sánchez
Cachoeira do Dragão (São João D’Aliança): Encontro de duas zonas de cisalhamento. Deformações que transformaram a paisagem e formaram este magnífico cânion, esculpido pelas águas. Foto: Ion David
Carrossel (Dentro do PNCV): No local se comprova que já foi mar, com as marcas de onda estampadas na rocha. Foto: Joana Sánchez
Como geóloga senti muita falta de informações sobre a Geologia do Local. Todas as cachoeiras tem uma entrada paga e ali deveriam constar painéis explicativos sobre o local contendo as principais estruturas, rochas etc.
Um pensamento em “Projeto Geoparque Chapada dos Veadeiros”
Como geóloga senti muita falta de informações sobre a Geologia do Local. Todas as cachoeiras tem uma entrada paga e ali deveriam constar painéis explicativos sobre o local contendo as principais estruturas, rochas etc.