Geoparque Caminhos dos Cânions do Sul

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O Geoparque Aspirante Caminhos dos Cânions do Sul está localizado na região sul do Brasil, integrando dois Estados e sete municípios, com área total de 2.830 km². O território apresenta uma população de aproximadamente 74 mil pessoas, envolvendo os municípios de Cambará do Sul, Mampituba e Torres, no Rio Grande do Sul, e Praia Grande, Morro Grande, Jacinto Machado e Timbé do Sul, em Santa Catarina.

A história geológica da região remonta ao Paleozoico e inclui os estágios finais de deposição da Bacia do Paraná, seguidos pela fragmentação do Supercontinente Gondwana. O território apresenta um grande escarpamento sinuoso com extensão superior a 200 km e desnivelamentos que variam de 900 a 1.300 m, considerada a maior cadeia de cânions da América Latina.

O território abrange planícies compostas por praias e lagoas. Também faz parte do patrimônio geológico da região uma grande quantidade de paleotocas, abrigos subterrâneos escavados em arenitos por animais extintos há mais de 10 mil anos. Chamam atenção ainda as gravuras rupestres e a descoberta recente no território de troncos de árvores fossilizados.

A natureza é caracterizada pelo Bioma Mata Atlântica, um dos biomas mais ricos em biodiversidade do mundo. O território abriga rico patrimônio cultural, com destaque para a influência das culturas indígenas, dos imigrantes (luso-brasileiros, vicentistas, açorianos, imigrantes italianos e alemães) e dos quilombolas.

Por tudo isso, consideramos o Geoparque Caminhos dos Cânions do Sul um território de características únicas, pela riqueza e singularidade do seu patrimônio geológico e cultural. Tal conjunto de fatores confere os pontos fortes desta estratégia de desenvolvimento que segue empoderando as comunidades locais, protegendo, educando e desenvolvendo de forma sustentável.

O Projeto Geoparque Costões e Lagunas do RJ realizou uma entrevista especial com a equipe do Geoparque!
Confira abaixo!

1) Como começou o Geoparque, quem participou e como está o projeto hoje?

A concepção de um projeto de Geoparque entre os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul começou a ser idealizada em 2007, por iniciativa do prefeito de Praia Grande (SC), na época, Sr. João José de Matos. A proposta envolvia seis municípios da região, sendo três de Santa Catarina e três do Rio Grande do Sul.

Já em 2009, o projeto Geoparque passou a ser liderado pela parceria entre a Secretaria de Desenvolvimento Regional (SDR), de Araranguá (SC), e a Associação dos Municípios do Extremo Sul Catarinense (AMESC). Nessa época, o território do Projeto foi ampliado para 19 municípios.

Nos anos seguintes, foram realizadas diversas reuniões na região para apresentação e esclarecimento sobre o projeto, além de capacitações e eventos, visitas técnicas e reportagens na imprensa que garantiram a repercussão das ações que aconteciam no território.

Entre 2010 e 2011, aconteceram os primeiros estudos para iniciar o inventário dos geossítios pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM), através da Superintendência de Porto Alegre (RS).

Em 2014, com o amadurecimento do projeto, a área do Geoparque foi reduzida para os atuais sete municípios, como forma de direcionar os esforços para uma área núcleo. E, em abril de 2017, o processo avançou para a criação oficial do Consórcio Público Intermunicipal Caminhos dos Cânions do Sul, órgão responsável pela gestão do projeto, formado pelos sete municípios que compõem o território.

Como resultado de intenso trabalho nos últimos anos, envolvendo as comunidades da região, profissionais da educação, equipe técnica, comitê educativo e científico, instituições parceiras e lideranças públicas, em 2019, oficializamos a nossa candidatura à Geoparque Mundial da UNESCO e, hoje, somos considerados um Geoparque Aspirante.

2) Quantos e quem são os coordenadores científicos do projeto? Todos são geólogos?

No Comitê Educativo e Científico (CEC), contamos com 26 membros, sendo 3 geólogos, 13 geógrafos e demais pesquisadores em áreas como Biologia, Geologia Marinha, Engenharia de Minas, Turismo, História, Engenharia Agrícola, Engenharia Ambiental, Educação e Desenvolvimento Territorial. O coordenador científico é Luiz Henrique Fragoas Pimenta, geógrafo, Mestre em Engenharia Ambiental e Doutor em Geografia.

Contamos com uma geóloga na equipe técnica multidisciplinar. Esta equipe também é composta por profissionais de diferentes áreas como Educação, História, Turismo, Administração, Engenharia Ambiental, Comunicação Social, Direito e Agronomia.

3) Quais as principais ações de geocomunicação e geoeducação que vocês têm realizado no território?

Para garantir a visibilidade do Geoparque e a sensibilização das comunidades envolvidas, realizamos a publicação de conteúdo nas mídias sociais oficiais e no website do Geoparque, além das atividades de assessoria de imprensa, com envio de notícias para publicação em veículos de comunicação.

Além disso, realizamos outras estratégias específicas como:

a) Reuniões, palestras e capacitações – Para sensibilizar as comunidades sobre a importância do Projeto.
b) Exposição Itinerante sobre o Geoparque – Durante 1 ano, a exposição percorreu os sete municípios do território. Mais de 6 mil pessoas visitaram a exposição.
c) Mostra Educativa e Cultural – Envolvendo estudantes e educadores de todo o território, a Mostra apresentou 34 trabalhos desenvolvidos por alunos de escolas desde a Educação Infantil até o Ensino Técnico, com idade de 4 a 18 anos. Os estudantes apresentaram trabalhos sobre a cultura da região, educação ambiental e geociências.
d) Gibi – Publicação do Gibi “Turma do Geoparquito em: Sonhando com um Geoparque no Sul no Brasil”, em parceria com a Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC). Foram distribuídos 10 mil exemplares para a rede de ensino do território e disponibilizado também de forma online.
e) Capacitações para educadores – Realizadas em parceria com o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), ampliando o conhecimento sobre os conceitos de Geoparque e Goconservação, além de dicas e materiais para inspirar atividades em sala de aula, formando professores multiplicadores em cada município.
f) Dia de Geoparque – Um dia especial para incentivar a população a conhecer os principais geossítios do território e compreender a relevância geológica destes locais.
g) Campanha Geoparque Cânions do Sul: Eu Faço Parte – Distribuição de 10 mil adesivos, utilizados pela população para demonstrar o apoio ao Geoparque.
h) Divulgação em feiras e eventos de turismo – Divulgação do Geoparque e do nosso georroteiro nos maiores eventos de negócios turísticos da América Latina.

4) Quais são os geossítios de maior relevância para o projeto? Quais são de interesse internacional?

Dos 30 principais geossítios identificados, trabalhamos para fins de promoção do geoturismo, atividades educativas e pesquisa científica, especialmente, 14 geossítios. Destes, 7 são de relevância internacional. São eles:

a) Cânion Malacara – Praia Grande (SC)
b) Cânion Fortaleza – Jacinto Machado (SC)
c) Cânion Fortaleza – Cambará do Sul (RS)
d) Cânion Itaimbezinho – Cambará do Sul (RS)
e) Paleotocas Índios Xocleng – Jacinto Machado (SC)
f) Paleotoca Furnas Xocleng – Morro Grande (SC)
g) Parque da Guarita e Morro do Farol – Torres (RS)

5) Qual é o maior desafio que vocês enfrentam na divulgação e engajamento do projeto?

De forma geral, as comunidades do território se mostram muito receptivas e engajadas na proposta do Geoparque. No entanto, alguns desafios se apresentam, tais como:

a) Transformar o conhecimento técnico e científico sobre as geociências em linguagem fácil de entender e acessível para comunidade. Fundamental comunicar desta forma porque só cuida, conserva e valoriza quem conhece e entende a importância destas riquezas.
b) Esclarecer que Geoparque não é um novo Parque Estadual ou Nacional e fixar sua importância para o desenvolvimento sustentável da região.
c) Investimentos limitados.

6) Para o ano de 2020, quais são os planos para o Geoparque Caminhos dos Cânions do Sul?

Uma das estratégias é fortalecer as ações de desenvolvimento sustentável, especialmente por meio do Geoturismo no pós-pandemia. É importante estabelecer protocolos de segurança sanitária para o trade turístico e promover o destino para o público que valoriza experiências junto à natureza, sustentabilidade e consumo consciente.

Também estamos buscando ampliar a rede de parceiros para fomentar ações voltadas aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e a realização de novas pesquisas científicas no território.

E, ainda, pretendemos ampliar o uso dos geossítios para atividades educativas.

7) Defina o Geoparque Caminhos dos Cânions do Sul em apenas uma palavra e por quê?

Superação. Porque apesar de todas as limitações (financeiras, econômicas, institucionais e sociais), o projeto vem avançando de forma sustentável e consistente junto às comunidades, especialmente dentro da comunidade escolar.


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