Campos dos Goytacazes

Descrição Geral: Campos é um município histórico do litoral norte do Estado do Rio de Janeiro, cujo território é cortado pelo rio Paraíba do Sul. Considerado o maior município em extensão territorial do Estado, possui diversos solares e sobrados notáveis. Conta com importantes reservas de petróleo e gás natural na Plataforma Continental relativa à Bacia de Campos. Também se destaca pela agricultura, comércio e cerâmica. Parceiro do nosso Projeto de Geoparque, o projeto Caminhos de Barro se faz presente na produção artesanal do município, desempenhando um trabalho social que dá atividade e complementa a renda de famílias através de oficinas de ensino que propagam a arte cerâmica por toda região.

Geologia: Na área de Campos há um embasamento cristalino constituído por rochas ígneas e metamórficas formadas durante a colisão que amalgamou o paleocontinente Gondwana. Também ocorrem depósitos da Formação Barreiras, constituídos por sedimentos continentais argilosos e argilo-arenosos datados em cerca de 10 a 20 milhões de anos. Nesta área, encontram-se depósitos arenosos flúvio-marinhos formados nos últimos 120 mil anos, com a migração da foz do rio Paraíba do Sul desde a Lagoa Feia e pela variação no nível do mar nesse intervalo.

Histórico: A região do atual município de Campos dos Goytacazes era habitada por grupos indígenas da etnia Goitacá, que significa, em tupi-guarani, “corredores da mata” ou “índios nadadores”. Sua história pode ser contada desde meados do século 16, quando D. João III doou a Pero Góis da Silveira a capitania de São Tomé, cujo nome, posteriormente, passou a Paraíba do Sul. Logo no primeiro contato, os portugueses ficaram receosos porque esses índios, que povoavam as aldeias lacustres, eram grandes, bravos e não aceitavam facilmente o contato com o europeu. Devido às constantes lutas e destruições das vilas fundadas, os colonizadores acabaram por abandonar as povoações. Em 1627, por ordem da Coroa Portuguesa, a Capitania de São Tomé foi dividida em lotes, doados a sete capitães portugueses, alguns deles donos de engenho na região da Guanabara, efetivando a ocupação com a exterminação dos índios. Em 1650, foi implantado o primeiro engenho em solo campista. Visconde d’Asseca funda a vila de São Salvador dos Campos dos Goytacazes em 1677, dominando a região por quase um século. Neste período há grande expansão pecuária. Em 1750, ocorre a queda dos Assecas e a partir daí a expansão da cana-de-açúcar, possível pela divisão dos grandes latifúndios. A Vila de São Salvador dos Campos foi elevada à categoria de cidade em 28/03/1835, cujo nome faz referência aos índios que viviam na região.


PRINCIPAIS GEOSSÍTIOS:

PEDRA LISA
Localização: 21°48’51.18″ S; 41°23’18.47″ O (Distrito de Morro do Coco)
Descrição: A Pedra Lisa, localizada no distrito de Morro do Coco, ao norte do município de Campos dos Goytacazes, é um geossítio que se destaca por sua beleza. A ciência que estuda as formas de relevo é denominada Geomorfologia e os sítios que se destacam pela geomorfologia são chamados geomorfossítios. O aspecto interessante desse monólito (mono = 1 + lito = rocha), além de sua altitude que ultrapassa 700 m, se dá pelas diferentes formas que ele adquire, dependendo do ângulo de observação. Em um dos lados, a feição é pontiaguda, como um dedo indicador apontando para o céu. Olhando para outra face, observa-se um paredão íngreme, mais arredondado. Isto ocorre devido à forma do maciço rochoso que é alongado e íngreme. A Pedra Lisa é uma das montanhas mais bonitas do estado do Rio de Janeiro, além de ser um local de escolha de muitos escaladores. A data da conquista da sua principal via de escalada é 15/02/1953 pelos montanhistas Alfredo Maciel, Francisco Vasco dos Santos e Tued Malta de Campo. Ali também há um hotel fazenda, que se abastece com águas de fontes naturais geradas pela infiltração e descarga da água das chuvas que percola pelas fraturas da rocha. Aliás, a imponente exposição rochosa resulta da erosão diferencial entre dois tipos de rochas. As mais altas são mais resistentes às intempéries (ação da chuva, vento, insolação, resfriamento, etc.). A mais velha, e menos resistente, possui entre 635 a 620 milhões de anos e é classificada como um paragnaisse, ou seja, uma rocha metamórfica formada em ambiente de pressão e temperatura altas que atuaram sobre sedimentos marinhos. Já a Pedra Lisa e suas companheiras rochosas das proximidades são rochas ígneas plutônicas, ou seja, formadas pela cristalização do magma (rocha fundida) em grandes profundidades. Na mitologia romana, Plutão é o senhor do mundo inferior, do Inferno, daí a origem do nome desse tipo de rocha ígnea que se consolida nas profundezas da Terra. São rochas de composição granítica e se formaram há aproximadamente 485 milhões de anos. A origem dessas rochas está relacionada ao evento tectônico de conformação do Supercontinente Gondwana. Durante a colisão dos antigos continentes, primeiramente, os sedimentos que existiam nos mares que os separavam foram deformados pela pressão e temperatura reinantes, formando os paragnaisses. Com o aumento da deformação e acavalamento das massas continentais, as suas porções inferiores se fundiram, formando as rochas ígneas que, então, no estado líquido, intrudem e cortam as outras rochas existentes. Por este motivo as rochas mais velhas estão envolvendo as mais novas. Com o passar de milhões de anos, as forças internas da Terra e a erosão vão trazendo à superfície as rochas que estavam em profundidade. As que são mais resistentes se destacam na paisagem, enquanto as mais frágeis se desfazem com maior velocidade. Assim, há muita beleza cênica e científica na Pedra Lisa. Sua história pode ser contada de muitas maneiras: pela Geologia, Geomorfologia, História do Montanhismo e pelas pessoas que a visitam apenas para observar sua geoforma!

CACHOEIRAS DO IMBÉ
Localização: Distrito de Morangaba – Cachoeira da Babilônia (21°52’38.8” S; 41°48’13.7” O) | Cachoeira Maracanã (21°48’53.9” S; 41°45’31.7” O) | Cachoeira Tombo D’água (21°52’43.3” S; 41°48’43.8” O)
Descrição: As aqui denominadas Cachoeiras do Imbé são três das muitas cachoeiras localizadas na zona de amortecimento do Parque Estadual do Desengano (PED) no município de Campos dos Goytacazes, na divisa com Santa Maria Madalena. A cachoeira Maracanã está localizada na Fazenda Mocotó, no distrito de Morangaba. Possui queda d’água em uma piscina natural de aproximadamente 30 m de diâmetro, com águas claras e transparentes, de temperatura amena no verão e fria no inverno. A piscina é circundada por rochas em forma de degraus, que sugerem uma arquibancada, por isso o nome Maracanã. Também na Fazenda Mocotó está localizada a cachoeira Tombo D’água, que possui águas claras e transparentes, de temperatura amena no verão e fria no inverno. No local há uma piscina natural com aproximadamente 50 m de comprimento, com fundo arenoso, oferecendo ainda uma ducha natural. Ao redor, a mata é preservada com toda sua vegetação intocada, com árvores de grande porte como cedro, ipê, jequitibá, jatobá, pau pereira, canela e coqueiro indaiá, além de bromélias, orquídeas e samambaias. Já a Cachoeira Babilônia começa na porteira da Fazenda Babilônia. Possui cerca de 34 m de altitude, formando uma várzea inundável na época das chuvas de verão, onde a intensa rede de drenagem formada no Parque flui repentinamente para a baixada, deixando alagadas as áreas de brejo. Na época da estiagem, essa várzea forma extensas pastagens. O PED é a Unidade de Conservação estadual mais antiga do estado do Rio de Janeiro e está situado no limite leste da Serra do Mar. As cachoeiras Tombo D’água, Maracanã e Babilônia encontram-se em um ambiente paradisíaco de Mata Atlântica ainda preservada e trilhas pouco exploradas. As águas das cachoeiras fluem em direção à Lagoa de Cima, pelo rio Imbé. O PED abriga o maior índice de biodiversidade do estado. Na região do Imbé está localizado o ponto mais elevado do município de Campos de Goytacazes, o Pico São Mateus, com 1.676 m de altitude, onde é possível ter uma visão ampla da região. As cachoeiras são procuradas pelos turistas, moradores e amantes de esportes radicais. Dentre as atividades esportivas ali realizadas, destacam-se o rapel, trekking, rafting, arvorismo, trilhas, ciclismo, canoagem, dentre outras. A Geologia das Cachoeiras do Imbé é caracterizada por maciços rochosos formados durante a colisão continental que ocorreu aproximadamente entre 650 e 480 milhões de anos. Esse ambiente colisional implica em condições de elevadas pressões e temperaturas, dessa forma as rochas foram deformadas e transformaram-se em rochas metamórficas. Além disso, ocorre também um intenso magmatismo, comum neste tipo de limite de placas, que resulta na formação de granitos, que são rochas ígneas cristalizadas em profundidade. A unidade geológica no qual as cachoeiras estão inseridas é caracterizada pela predominância de rochas denominadas gnaisses charnockíticos, datados em aproximadamente 550 milhões de anos. Gnaisses charnockíticos são rochas metamórficas que apresentam granulação grossa e mineralogia similar a de um granito, destacando-se a presença de hiperstênio, um mineral que contém ferro e magnésio em sua composição e que é característico dos charnockitos. Outro aspecto de destaque para a formação das Cachoeiras do Imbé é seu posicionamento no limite sul do PED, onde há uma quebra abrupta do relevo, desde 1.800 m nas partes mais altas até a planície campista. Neste desnível se formam paredões íngremes e vales profundos onde as cachoeiras se destacam. Visitando as Cachoeiras do Imbé, é possível realizar um incrível passeio em meio às montanhas, além de se refrescar nas águas do lugar com paisagem virgem e, ainda, conhecer uma parte da história geológica desta região abrangida pelo nosso projeto.

Referências: Imbé: Bonito por Natureza | Plano de Manejo do Parque Estadual do Desengano | Geologia do Estado do Rio de Janeiro. Serviço Geológico do Brasil – CPRM | Proposta – Geoparque Costões e Lagunas do Estado do Rio De Janeiro (RJ). CPRM | Diagnóstico do Meio Físico da Bacia Hidrográfica do Rio do Imbé – RJ. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa

LAGOA SALGADA
Localização: 21°54’28.4” S; 41°00’43.6” O (Divisa dos Municípios de São João da Barra e Campos dos Goytacazes, na localidade Barra do Açu)
Descrição: A Lagoa Salgada, localizada no limite entre os municípios de São João da Barra e Campos dos Goytacazes, é um geossítio de extrema importância para o nosso projeto de Geoparque e está inserida num contexto de cordões arenosos, que revelam, em seus sedimentos, registros das variações do nível relativo do mar nos últimos 5 mil anos. Porém, o que a torna tão importante não são apenas esses registros, mas a presença de estromatólitos que vêm sendo estudados por cientistas de todo mundo.  A Lagoa Salgada é uma laguna cuja salinidade é variável, podendo ser salobra, salgada ou até mesmo ter a salinidade mais alta que a do mar. Foi formada há cerca de 5 mil anos, quando houve um aquecimento climático que provocou o aumento do nível do mar, inundando o litoral e formando enseadas. Posteriormente, o nível do mar voltou a descer e as correntes litorâneas traziam sedimentos, que eram distribuídos ao longo do litoral, possibilitando o fechamento da laguna. Após o seu isolamento, as condições de salinidade e hidrodinâmica se tornaram propícias para o crescimento de micro-organismos, responsáveis pela formação dos estromatólitos. Por essa razão, são denominados bioconstruções. O nome estromatólito significa “tapete de pedra” e são rochas geradas pela ação de micro-organismos. Esses pequenos seres vivos possuem um metabolismo dependente do processo de fotossíntese e vivem no fundo da laguna, colonizando o substrato. Durante a fotossíntese, retiram cálcio e dióxido de carbono da água, produzindo, então, carbonato de cálcio. Uma vez que esse material carbonático se acumula, sucessivamente, ocorre a formação do que chamamos de esteiras microbianas, que futuramente tornam-se estromatólitos. Estromatólitos representam o primeiro registro de vida macroscópico na Terra, cerca de 3,5 bilhões de anos atrás. Nesse momento, a atmosfera primitiva não continha oxigênio, mas o ambiente marinho estava dominado por cianobactérias fotossintetizantes, que enriqueceram a atmosfera com o oxigênio que liberavam. Os estromatólitos da Lagoa Salgada são recentes e, por essa razão, este geossítio é um laboratório natural para o estudo da origem da vida na Terra. Exemplares dos estromatólitos da Lagoa Salgada foram datados em cerca de 2.220 anos em sua base e 260 anos no topo, ou seja, sua formação se deu em aproximadamente 2 mil anos, determinando uma taxa de crescimento de cerca de 1 cm a cada 100 anos. Por esse processo ocorrer de forma tão lenta, os estromatólitos são bastante vulneráveis. Locais como a Lagoa Salgada são raríssimos no mundo e junto com os estromatólitos existentes no sistema lagunar de Araruama (Restinga da Massambaba) são únicos no Brasil. Variações na salinidade da lagoa, pisoteamento pelo gado e retirada de estromatólitos para fazer cercas nas propriedades ameaçam este patrimônio. Somente parte da Lagoa Salgada está protegida pelo Parque Estadual da Lagoa do Açu (PELAG). Além de todo conhecimento que pode ser obtido através desses estromatólitos, eles também são similares às rochas-reservatório das camadas do Pré-Sal. Desta forma, são estudados, também, para entendimento da origem dessas importantes jazidas de petróleo e gás do Brasil. A Lagoa Salgada é um patrimônio natural de relevância internacional e tem grande potencial Geoturístico e Geoeducacional. Proteger este local é de suma importância para que os processos continuem ocorrendo naturalmente, revelando mais informações sobre uma antiga história do nosso planeta que ainda ocorre nos dias atuais.

MORRO DO ITAOCA
Localização: 21°47’52.8” S; 41°26’59.6” O
Descrição: O Morro do Itaoca é um dos locais mais procurados pelos amantes da natureza que moram ou visitam o município de Campos dos Goytacazes. O local é visitado para realização de voo livre, ioga, caminhada, corrida, ciclismo, trekking, dentre outros esportes, além de abrigar a maior pista de downhill do Brasil. Também é procurado por pesquisadores que buscam informações relacionadas ao patrimônio científico da biodiversidade e geodiversidade local. O morro representa o pico mais alto do município, atingindo altitude de 414 m, fornecendo uma visão panorâmica e belíssima da região, em particular da Lagoa de Cima, outro importante geossítio na área. Seu nome é herdado das populações originárias que habitaram a região e significa, em tupi-guarani, casa (oca) de pedra (ita). Desde 2013, o Morro do Itaoca se tornou uma Área de Proteção Ambiental (APA) Municipal, que é uma categoria de unidade de conservação de uso sustentável, visando à proteção e uso equilibrado dos recursos naturais. O local detém remanescentes florestais da Mata Atlântica, fauna associada e grande beleza cênica. É  uma excelente escolha para prática do ecoturismo e uma oportunidade para o geoturismo. Apesar de quase toda a serra estar contida em uma APA, em seu entorno imediato, fora, portanto, dos limites de proteção, existem algumas minerações que exploram as rochas do maciço. Esta deve ser uma preocupação de gestão, dada a possibilidade de danos ao monumento protegido. Além disso, pesquisas indicam que todo o maciço está recoberto por polígonos relativos à autorização para pesquisa mineral ou lavra junto à ANM (Agência Nacional de Mineração). A Geologia do Morro do Itaoca está relacionada ao estágio final da colisão continental que originou o Supercontinente Gondwana, onde África e América do Sul foram unidas numa única massa continental. As rochas do morro do Itaoca são caracterizadas por pertencerem a corpos ígneos plutônicos, ou seja, formados pela cristalização do magma (rocha fundida) em grandes profundidades. Essas rochas ígneas são representadas por granitos datados em cerca de 480 milhões de anos. Esta rocha granítica representa o evento magmático mais recente ocorrido durante a conformação do Gondwana. Esse supercontinente teve longa duração, com a força da colisão atuando desde 600 milhões, aproximadamente, até cerca de 480 milhões de anos. Somente há 130 milhões de anos ele se quebrou e continua a nossa separação da África até os dias de hoje. A colisão continental que formou o Supercontinente Gondwana teve várias etapas ao longo desses milhões de anos e, durante esse processo, houve condições de altíssimas pressões e temperaturas, que propiciaram a deformação das rochas e mudanças em seus minerais, produzindo as rochas metamórficas. No caso da rocha ígnea granítica, por sua formação se dar no final do esforço proporcionado pela colisão, quando não há mais a forte pressão dirigida de uma placa colidindo com a outra, o ambiente que predomina é o de alta temperatura, dada a grande profundidade em que se formam. Essa temperatura elevada gera fusão das rochas, resultando em um magma de composição granítica, que se cristaliza conforme vai esfriando. A composição das rochas de Itaoca é semelhante à da crosta continental. Portanto, os pesquisadores entendem que essa rocha é produto da fusão na base desses antigos continentes que colidiram. Fragmentos de rochas mais antigas, metamórficas, são encontrados dentro deste maciço, mostrando que ele, ao se cristalizar, pegou pedaços da rocha que já existia no entorno e incorporou ao seu domínio. Ao visitar este geossítio, além de apreciar um passeio com uma vista incrível, você poderá conhecer uma parte da importante história geológica que originou o território do nosso Geoparque!

Referências: Potratz, G.L.; Valeriano, C.M. 2017. Petrografia e Litogeoquímica do Granito Itaóca, Município de Campos dos Goytacazes, RJ: O Representante Mais Jovem do Magmatismo Pós-colisional da Faixa Ribeira. Geonomos, 25(1):1-13 | Morro do Itaoca também é um dos pontos turísticos neste verão

BARRA DO FURADO
Localização: 22°05’51” S; 41°08’29.040” O
Descrição: A Barra do Furado, situada no limite entre os municípios de Quissamã e Campos dos Goytacazes, é uma região de beleza rústica, caracterizada por uma “disputa de território” entre o ser humano e o mar. A região ainda atrai muitos turistas por conta da bela praia que, pela formação de boas ondas, é muito procurada, principalmente para a prática do surfe. A região da Lagoa Feia separa os “feixes” de cordões litorâneos, interpretados como paleopraias. Os do norte, até a foz do rio Paraíba do Sul, têm idades entre 7 e 5 mil anos, enquanto os do sul são mais velhos, havendo datações com cerca de 80 mil anos. Foram formados durante a migração da foz do Paraíba do Sul pela ação das variações do nível relativo do mar e das correntes de deriva litorânea. Essas correntes acompanham o litoral carregando e depositando sedimentos. Na Barra do Furado está localizada a foz do denominado Canal da Flecha, que liga a Lagoa Feia ao mar. Até 1688, este canal não existia. As águas da Lagoa Feia transbordavam e corriam por vários cursos d’água que convergiam para o rio Iguaçu que tinha seu estuário no mar. Foi quando o capitão José de Barcelos Machado, herdeiro de algumas Sesmarias no norte fluminense que pertenceram aos Sete Capitães, abriu para o mar um canal artificial ao sul da Lagoa Feia, com objetivo de escoar mais rapidamente as águas das cheias. Esse canal então recebeu o nome de Furado. Entretanto, as fortes ondas e as correntes marinhas intensas na desembocadura do canal fechavam a foz com sedimentos e tornavam a saída temporária. Periodicamente, o canal contribuía para descarregar água doce no mar, mas duas condições eram necessárias: marés baixas acompanhadas de ondas pequenas e grande volume de água doce acumulado no continente com as chuvas. Cessadas essas duas condições, a barra voltava a se fechar. Em 1942, iniciou-se a abertura do Canal da Flecha, ligando a Lagoa Feia diretamente ao mar. Em 1949, o canal estava concluído. Posteriormente, na década de 1970, ainda foi construída pelo Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS) uma série de 14 comportas no trecho final do canal com o objetivo de regular o nível da lagoa, além do prolongamento da foz feito por dois guias-corrente de pedra para diminuir a energia oceânica e manter o canal aberto, formando, assim, a Barra do Furado, encontro do canal artificial com o mar. Entretanto, o prolongamento da foz gerou um desalinhamento da costa. A praia do lado de Quissamã, à direita, engordou, enquanto que a do lado esquerdo, em Campos, sofreu forte erosão, ameaçando a integridade do manguezal da Ilha da Carapeba. A construção do Canal da Flecha propiciou a entrada de água do mar no canal, aumentando a salinidade nas partes sul e sudoeste da Lagoa Feia, e provocou a diminuição do nível da água, sendo responsável pela redução de 100 km² do seu espelho d’água. A Barra do Furado é um local único dentro do nosso território, sendo possível observar em tempo real o quanto ações antrópicas influenciam na dinâmica costeira de uma região.

Referências: Martin, L.; Suguio, K.; Flexor, J.M.; Dominguez, J.M.L. 1984. Evolução da planície costeira do rio Paraíba do Sul (RJ) durante o quaternário: influência das flutuações do nível do mar. In: 33º Congresso Brasileiro de Geologia, Anais, 33:84-97 | Folharini, S.O.; Oliveira, R.C.; Conceição, A.F.; Furtado, A.L. dos S. 2014. Análise da linha de costa entre o Rio Macaé e o canal das flechas (RJ) de 1967 a 2007 por meio de fotografia aéreas. Revista Geonorte, Edição Especial 4, 10(2):12-16 | Os quatro tempos de Barra do Furado

LAGOA DE CIMA
Localização: 21°46’01.3” S; 41°30’59.6” O
Descrição: A Lagoa de Cima situa-se a 28 km de distância do centro da cidade de Campos dos Goytacazes e é um importante ponto turístico, atraindo visitantes de todo o Norte Fluminense. Possui um espelho d’água com 14,95 km² de área, cerca de 18 km de circunferência e tem, aproximadamente, quatro metros de profundidade. A formação da Lagoa de Cima está relacionada com o último grande avanço marinho sobre o continente. A ocorrência do fenômeno de aumento do nível do mar proporcionou o afogamento de algumas porções de terra e barrou vários cursos d’água que desciam da Serra do Mar em direção ao oceano. Este barramento levou as águas desses rios a se alastrarem pelas áreas baixas, formando uma infinidade de lagoas semiparalelas ao litoral, como as lagoas Feia e de Cima. Sua água é doce e apresenta depósitos de diatomito. Esta é uma rocha usada como matéria-prima para filtros, construção civil e agricultura. É constituída a partir do acúmulo de carapaças de algas diatomáceas. Estudos com as diatomáceas Aulacoseira comprovam que a Lagoa de Cima passou por diversas fases quentes e úmidas, e também por períodos de seca ao longo de 7.000 anos. A Lagoa de Cima foi elevada à Área de Proteção Ambiental (APA) em 24/12/1992, pela Lei Municipal n. 5.394, com o objetivo de proteção e conservação dos atributos bióticos, culturais, estéticos e do próprio espelho d’água. Ainda, grande parte da extensão da bacia de drenagem da Lagoa de Cima encontra-se dentro do Parque Estadual do Desengano. Atualmente, a Lagoa de Cima é abastecida pela confluência dos rios Urubu, Imbé e por outros três pequenos córregos que, juntos, possuem uma área de drenagem de 986 km². Outro importante curso d’água associado à Lagoa de Cima é o rio Ururaí, que a conecta à Lagoa Feia. A Lagoa de Cima se tornou um dos principais pontos turísticos do município e essa fama é atribuída à tranquilidade e, principalmente, às belezas naturais, que encantaram até D. Pedro II que, de acordo com registros históricos, durante uma das passagens do monarca à região, chamou Lagoa de Cima de “Lago dos Sonhos”. Ela, ainda, é a principal fonte econômica da população local que vive basicamente da pesca artesanal, do turismo e do comércio. Seguindo a tendência regional, as terras que compreendem os arredores da Lagoa de Cima, mesmo dentro da área de proteção ambiental, são destinadas à produção de cana-de-açúcar, pecuária ou estão abandonadas, o que ultimamente tem gerado alguns impactos na Lagoa. Independente de todas as questões ambientais, quem visita a Lagoa de Cima se apaixona pela sua beleza, que resiste em meio a alguns problemas de conservação. Na Lagoa de Cima é possível desfrutar de uma vista incrível, praticar esportes náuticos e ainda compreender um pouco mais sobre a dinâmica costeira de Campos dos Goytacazes.

Referências: Almeida, T.F.; Alves, L.A.; Miro, J.M.R. 2014. Diagnóstico preliminar do uso da terra na faixa marginal de proteção da Lagoa de Cima/RJ. VII Congresso Brasileiro de Geógrafos | Bidegain, P.; Bizerril, C.; Soffiati, A. 2002. Lagoas do Norte Fluminense: Perfil Ambiental. Rio de Janeiro, Fundação Superintendência Estadual de Rios e Lagoas (SEMADS), 148 p. | Costa, K.V. 2008. Cosmovisões da natureza: um estudo sobre as representações sociais de natureza envolvidas na proteção da Lagoa de Cima – Campos dos Goytacazes – RJ. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade), Instituto de Ciências Humanas e Sociais, UFRRJ, Seropédica, RJ, 202 p. | Nascimento, L.R.; Sifeddine, A.; Abrão, J.J. 2005. As diatomáceas do sedimento da Lagoa de Cima – Campos dos Goytacazes (RJ-Brasil) para o entendimento das mudanças ambientais ocorridas ao longo de 7.000 anos cal. A.P.. X Congresso da ABEQUA, Guarapari, ES, pp 232-233 | Ribas, L.M.; Baldotto, M.A.; Canellas, L.P.; Rezende, C.E. 2012. Qualidade e Mobilidade da Matéria Orgânica de Sistemas Adjacentes à Lagoa de Cima, Campos dos Goytacazes – RJ. Geochimica Brasiliensis, 22(2):103-112 | Secretaria Municipal do Desenvolvimento Ambiental de Campos dos Goytacazes – SDMA | Os Muitos Usos do Diatomito – Serviço Geológico do Brasil – CPRM.

FAROL DE SÃO THOMÉ E OS ANTIGOS CANAIS DO RIO PARAÍBA DO SUL
Localização: 22°02’32” S; 41°03’11” O
Descrição: O rio Paraíba do Sul possui aproximadamente 1.150 km de extensão e deságua no litoral entre os municípios de São João da Barra e São Francisco de Itabapoana. Sua importância é destacada especialmente porque ele e seus afluentes abastecem grande parte da população e atividade econômica do estado do Rio de Janeiro, além de cruzar os estados de São Paulo e Minas Gerais. Atualmente, o rio Paraíba do Sul possui um delta formado pelo encontro de dois braços, o de Gargaú, em São Francisco de Itabapoana, e o de Atafona, em São João da Barra. Porém, nem sempre foi assim. Antigamente, há aproximadamente 120 mil anos, o rio iniciou a formação de sua antiga planície litorânea, que ocupou a área desde Macaé até próximo a Lagoa Feia, no limite Quissamã/Campos dos Goytacazes, abrangendo boa parte do que hoje é o território do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba e chegando até a região do Farol de São Thomé. Os depósitos de areias litorâneas (cristas de praias antigas) encontrados neste trecho litorâneo tiveram origem no período no qual a desembocadura do rio Paraíba do Sul migrou até as proximidades do Farol de São Thomé. Nesta região em particular, os sedimentos fluviais retrabalhados pela ação do mar formaram uma ampla planície entre a cidade de Campos e a vila de pescadores e balneário de Farol de São Thomé. Nesta área é possível ver os registros dos antigos canais em imagens de satélite. Em períodos das chuvas, tornam-se belíssimos alagados. Desde então, o rio Paraíba do Sul percorreu vários caminhos e ocupou diferentes posições. A área entre o Farol de São Thomé e a atual foz foi preenchida por sedimentos mais recentes nos últimos sete mil anos. Toda esta dinâmica se dá pela ação da distribuição de sedimentos, alimentados pelo rio e correntes marinhas, e altamente influenciados pelas variações no nível relativo do mar no passado. Assim, na região do Farol de São Thomé, o rio Paraíba do Sul formou suas antigas desembocaduras em períodos nos quais o nível de base do mar era mais baixo do que atualmente. Desta forma, parte da sua história geológica, hoje, encontra-se sob as águas do mar ou foi apagada pelo movimento das ondas, correntes e marés. Quem visita a localidade do Farol de São Thomé não pode deixar de ir até a área de desembarque dos barcos de pesca para observar o incrível processo de atracamento apoiado por tratores. A técnica de construção dos barcos e a forma como eles são trazidos do mar de ondas grandes para a areia são incríveis exemplos da engenhosidade dos pescadores locais. Também é importante dizer que o belíssimo Farol de São Thomé, que dá nome à localidade, foi construído em 1877 e projetado pelo engenheiro Gustave Eiffel, responsável pelos projetos da Estátua da Liberdade, em Nova Iorque, e da torre que leva o seu nome, em Paris. Os sedimentos da planície de inundação do rio Paraíba do Sul são usados como material para cerâmica estrutural, cuja origem histórica associa-se ao povoado de São Sebastião e hoje se constitui numa das mais fortes atividades econômicas do município para fabricação de telhas, tijolos e artefatos cerâmicos. Além disso, o primeiro poço para pesquisa de petróleo na Bacia de Campos foi perfurado na localidade. Mas isto é assunto para outro sítio…

Referências: Farol de São Tomé – Caminho do rio Paraíba do Sul há milhares de anos. Painel do Projeto Caminhos Geológicos. DRM-RJ. | As saídas de água continental para o mar na Ecorregião de São Thomé; Um rio esquecido no Farol de São Thomé; Os rios da Ecorregião de São Thomé na cartografia do século XVI. Portal do Farol. | As saídas do Paraíba do Sul para o mar e o mangue. Rota Verde.


PRINCIPAIS SÍTIOS DE INTERESSE HISTÓRICO-CULTURAL NA ÁREA DO GEOPARQUE:

SOLAR DOS AYRIZES
Localização: 21º 45′ 45.93” S; 41º15’30.76” O (às margens da BR-356)
Descrição: Este solar construído no século XIX está localizado à margem direita do rio Paraíba do Sul. Em 29 de fevereiro de 1940, o então proprietário do Solar dos Ayrizes, o geólogo e memorialista Alberto Ribeiro Lamego escreveu ao diretor do IPHAN, Rodrigo Mello de Andrade, solicitando o tombamento do prédio, tendo o pedido sido prontamente acolhido. Trata-se de um edifício típico dos sobrados nas fazendas de Campos, destacando-se no período Imperial. No interior do solar já esteve presente à biblioteca, arquivo e a pinacoteca de Alberto Lamego, seu mais ilustre habitante. Belíssimo exemplar da arquitetura neoclássica rural campista, o prédio possui toda sua estrutura em peroba e pau-brasil. Segundo consta, ao gosto popular, nele residia a Escrava Isaura (Alves & Teixeira 2008).

SOLAR DO COLÉGIO
Localização: 21º 50′ 45.47” S; 41º16’16.40” O (às margens da Rodovia Sergio Viana Barroso)
Descrição: Este Solar foi construído na segunda metade do século XVII pelos jesuítas, que na época eram proprietários de uma das maiores fazendas da região, com a finalidade de ser um “colégio” tipicamente jesuíta. Quando expulsos do Brasil, o prédio foi vendido em hasta pública. O Solar do Colégio é tombado desde o ano de 1946, pelo IPHAN. Apresenta um estilo maciço dos antigos conventos, de paredes espessas e está instalado em suave elevação com relação aos arredores, protegido dos alagamentos na época de chuvas.

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